“Doutor, meu filho tem um sopro no coração. Será que isso é grave?” Esta é uma pergunta que ocorre diariamente em consultórios de cardiologistas. Mas afinal, o que é o sopro?

Antes de mais nada, é preciso esclarecer que sopro não é uma doença. Sopro é um sinal, assim como a febre, a falta de ar, mudanças na cor da pele, etc. Um sinal pode indicar a presença de uma doença. Assim como várias doenças podem produzir febre, várias doenças podem produzir sopro.

Para compreender o que é o sopro precisamos recordar que o coração é um músculo oco, e por dentro dele passa grande quantidade de sangue (cerca de 4 a 6 litros / minuto). Porém, não devemos imaginar que este fluxo de sangue seja tranquilo e homogêneo. Na verdade, o sangue ejetado e comprimido de várias maneiras antes de deixar o coração, produzindo sons. Os sons produzidos pela passagem do sangue no interior do coração e proximidades ocorrem em todas as pessoas. Porém, em algumas pessoas o som é mais intenso, em outras menos, a depender de muitos fatores: velocidade de bombeamento do sangue, densidade do sangue (presença ou não de anemia), tamanho das cavidades do coração, presença de pontos mais ou menos estreitos, etc.

Se este som for muito intenso, será transmitido até a pele da pessoa, onde pode ser escutado com ou até mesmo sem um estetoscópio. Nesse caso, dizemos que a pessoa tem um sopro cardíaco.

Assim, chama-se sopro cardíaco, ou sopro no coração, a possibilidade de ouvir, com ouvidos desarmados ou com o estetoscópio, os sons produzidos pela passagem do sangue dentro e próximo ao coração. Não custa nada lembrar que estes sons são produzidos em todas as pessoas, e, portanto, escutar um sopro no coração não é sinônimo de ter uma doença no coração, como veremos a seguir.

Os sopros também podem ser encontrados em outros órgãos do corpo humano, como nos rins, no fígado, nas artérias, etc. Nestes órgãos, a origem do sopro é semelhante à do sopro cardíaco, ou seja, a passagem ruidosa e acelerada de sangue em seu interior. Sopros fora do coração na maioria dos casos representam anormalidades, sendo pouco frequentes em indivíduos saudáveis.

“Mas será que o meu sopro é perigoso?”. 

O sopro cardíaco pode ocorrer em corações doentes ou em corações normais, durante doenças que afetam outros órgãos do corpo, como por exemplo, durante anemias ou doenças da tireóide. Nestes casos, com o coração normal, o sopro é inofensivo – o que deve ser tratado é a doença deste outro órgão. O sopro desaparece quando esta doença estiver curada ou controlada.

O sopro cardíaco também pode ocorrer em pessoas saudáveis, sem doenças no coração ou fora dele. Nestes casos, estaremos ouvindo o som normal da passagem do sangue no coração. A este tipo de sopro chamamos sopro inocente. Não traz qualquer implicação para a pessoa que o porta. Pode ocorrer em até 40% dos adultos, e em 50-60% das crianças menores de 1 ano de idade. No caso de crianças pequenas, o sopro tende a desaparecer com o crescimento.

Em adultos, porém, a maior parte dos sopros é causada por alguma doença no coração. Existem sopros causados por doenças congênitas ou adquiridos.

Congênitos (“de nascença”) – podem ser descobertos ainda na infância ou somente após o crescimento, até mesmo em pessoas idosas:

  • Valvulopatias (doença em uma ou mais das 4 válvulas do coração);
  • Defeitos septais (comunicação anormal entre os lados direito e esquerdo do coração);
  • Coarctações (estreitamento em um canal que conduz sangue);
  • Persistência de canal arterial (o não fechamento de um canal condutor de sangue que normalmente fecha logo após o parto);
  • Doenças complexas.

Adquiridos (que surgem após o nascimento) – também podem ser detectados em qualquer época da vida:

  • Valvulopatias (doença em uma ou mais válvulas do coração);
  • Miocardipatia hipertrófica (crescimento anormal de parte do músculo do coração);
  • Comunicação interventricular (comunicação anormal entre os lados direito e esquerdo do coração, geralmente ocorre após infartos);
  • Dilatação aórtica (aumento do tamanho da aorta, que conduz o sangue que sai do coração, geralmente causado por pressão alta);

A gravidade das doenças listadas acima é bastante variável. Algumas destas doenças podem apresentar-se de maneira inofensiva, sendo que acompanharão o paciente por toda a vida sem causar qualquer complicação. Este tipo de doença não necessita tratamento, mas o paciente terá sempre o sopro.

Já outras destas doenças são muito graves, necessitando tratamento com medicações e até mesmo cirurgias no coração. Podem até mesmo ser fatais.

Assim, para saber se o seu sopro é perigoso, é necessário descobrir a causa deste sopro, já que sopro não é doença, é sinal.  Uma vez descoberta a causa do sopro, o médico poderá determinar se a doença traz algum perigo ou não para o paciente, e a necessidade ou não de tratamento.

“E como eu descubro se tenho sopro?”.

Como o sopro pode ser causado por dezenas de diferentes doenças, não é possível descrever os sintomas (o que a pessoa sente quando tem) do sopro. Assim sendo, a única maneira de detectar um sopro é através de uma consulta com um médico, que, escutando seu peito como o estetoscópio pode prontamente responder se existe ou não algum sopro. Em boa parte dos casos, o médico não necessitará mais do que conversar com o paciente e escutar seu sopro para definir o diagnóstico de sopro inocente. Mas, em caso de dúvida, podem ser necessários exames para averiguar a causa do sopro.

Quando se faz necessário exames, os mais úteis para o médico são o eletrocardiograma de repouso (“eletro do coração”) e o ecocardiograma com Doppler a cores (“ecografia do coração”). Ambos são exames simples, amplamente disponíveis e que definem o diagnóstico na maioria absoluta dos casos de sopro.